A EDUCAÇÃO E O MUNDO DO TRABALHO

17/02/2018 19:23

A EDUCAÇÃO E O MUNDO DO TRABALHO

 

Professor: Samuel de Souza Pereira

 

Que fragilidade pode entrever na relação da educação vinculada ao mundo do trabalho? Como os sujeitos da EJA (professores, alunos) podem pensar alternativos a esses limites em termos da formação humana?

 

A educação popular pode ser comparada como sendo uma inciativa educativa, incentivada tanto pelo Estado como por setores da sociedade civil, como sindicatos, organizações não governamentais, igrejas, e associações de moradores, objetivando o atendimento às necessidades educativas do povo, não necessariamente necessidades educativa escolares, mas por vezes ligadas à sua cultura e ao trabalho.

Gerliane Cosme Martins.

 

Para responder a essa questão, parto do pressuposto de que, nas sociedades modernas, a consciência cada vez mais clara que se tem da importância da educação como fator de desenvolvimento, acompanha de perto a progressiva complexidade das formas de relação social e a necessidade cada vez mais urgente, de dinamização dos recursos materiais e humanos que devem combinar a fim de que se possa efetivar plenamente o processo educacional.

Os inúmeros problemas educacionais e o verdadeiro papel da educação são motivos de ampla discussão na sociedade atual. Assim, torna-se necessário empreender políticas educacionais para vencer as barreiras e entraves que inviabilizam a construção de uma cidadania e, desta forma possibilite um instrumento real de transformação social.

Rummert e Alves (2010) em seu texto: Jovens e adultos trabalhadores pouco escolarizados no Brasil e em Portugal: alvos da mesma lógica de conformidade destaca que Brasil e Portugal programaram políticas voltadas para a educação e formação profissional de jovens e adultos, visando reverter o quadro de baixa certificação no nível da educação básica e profissional de suas populações, entretanto, existe um caráter marginal que sempre foi atribuído à educação de jovens e Adultos e isso parece ser pensamento dominante.

Porém, Miguel Arroyo destaca que o trabalho sempre foi incerto para muitos. E nesse modelo de incerteza, o individuo tem que ser preparado para enfrentá-lo.  Consequentemente, em se tratando de Jovens e Adultos do PROEJA é latente o pensamento negativo em relação a esses sujeitos. Nesse sentido, Rummert & Alves, afirma que:

Na realidade, o discurso defensor do universalismo da educação básica para jovens e adultos com baixa escolarização materializou-se em políticas de governo que, na maior parte das vezes conferem o direito de acesso a certificação de escolaridade que legitimam simulacros de educação, enraizados numa lógica compensatória, em detrimento do efetivo acesso universal ao conhecimento, essas políticas aprofundam e legitimam desigualdades, sob a aparente democratização de oportunidades. (p.7).

 

Hoje é ponto pacífico em qualquer teoria do desenvolvimento que, nas condições da sociedade de nossos dias, cada vez mais voltada para a ciência e para a tecnologia, cabe à educação, enquanto instituição básica, criar as condições mínimas que permitirão o pleno desenvolvimento de todos os fatores sociais implicados no desenvolvimento integral daquela sociedade.

Para Rummert & Alves, as forças dominantes brasileiras também reconhecem a importância atual da educação, seja no nível dos novos requerimentos do núcleo central dos processos produtivos, seja no âmbito do controle social. Acrescenta ainda que, essa perspectiva é justificada pela necessidade de maior qualificação para lidar com o mundo do trabalho, imposta pela dita complexa sociedade da informação ou sociedade do conhecimento.

Entretanto, para Miguel Arroyo, toda produção de saberes se dá em uma relação política. Assim, a educação é um direito de todo ser humano. A produção de vida centra-se no trabalho. A qualificação, entretanto, depende da educação. Porém, sem uma educação de qualidade, isso não se concretiza. Consequentemente, a certificação não e a solução de problema, pois, existem muitas pessoas com certificados e, no entanto, continuam sem trabalho.

A compreensão clara das funções da educação na sociedade contemporânea, por parte de camadas tradicionalmente afastadas deste tipo de preocupação, é talvez um dos fatos mais originais de nosso tempo. Há um consenso, quase diríamos universal, acerca do sentido da educação como instrumento impar de afirmação individual e valorização coletiva de todas as classes sociais, sem distinção. Assim, aprendemos pela observação e pela experiência que os países de mais alto nível de vida e de ritmo mais acelerado de crescimento são justamente aqueles que mais cuidam de sua educação. Podemos tomar como exemplo aqui na América Latina o Chile e no oriente a China, que deram aos seus sistemas educacionais um olhar diferente de países como Brasil e Portugal.

Para Arroyo, os jovens e adultos da EJA/PROEJA não são trabalhadores. Portanto, o PROEJA não pode ser um projeto de compaixão e sim um mecanismo que possa dar ao jovem a qualificação necessária para que ele se ajuste socialmente, que tenha condições de enfrentar o modelo competitivo de mercado existente não só no Brasil, mais em todo o globo terrestre. Consequentemente, para Rummert & Alves as positividades do programa residem, sobretudo, na perspectiva de integração da educação profissional à educação básica, que pode ser “implementada”, embora também seja abrigada na proposta a forma concomitante. A meu ver, essa é a grande diferença entre o programa da EJA e do PROEJA.

Em relação ao papel do professor, apresento o pensamento de Maria José e Maria Auxiliadora que, ao discutir sobre o processo de ensino aprendizagem de jovens e adultos cita que ao se trabalhar com essa Modalidade se faz necessário ter em mente os aspectos socioculturais dos educandos, de maneira que se possa orientar a escolha de métodos de ensino mais adequados à realidade de vivência, de forma a valorizar as experiências dos alunos a partir do dialogo na aprendizagem[1]. Bem como não entender seus alunos de forma negativa e como excluídos, mas pessoas em busca de uma qualificação que lhes seja útil para a inserção no mundo do trabalho.

Quanto aos alunos, os mesmos devem ter em mente o objetivo da apropriação dos conhecimentos e de se obter uma formação de qualidade, não se conformando apenas com a certificação, pois como menciona Arroyo: “existem muitas pessoas com certificados que continuam sem condições de se inserirem no mercado de trabalho”.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Concluímos, portanto, que a escola ao proporcionar ao educando meios para compreensão da realidade, tanto física como social, na busca de significados do conteúdo apreendido, assume a função de construir o saber universal e sistematizado, proporcionado também uma visão crítica para renovação e transformação pessoal e social. Nesse sentido destaca-se o papel do PROEJA como fator de integração, pois ao disponibilizar uma formação profissional, permite ao individuo um ajuste melhor para se inserir no mundo do trabalho.

Concluímos também, através das leituras realizadas, que a mediação pedagógica é de fundamental importância para o sucesso desta Modalidade de ensino. Portanto, a preparação do professor deve ser uma constante em uma sociedade em profundas transformações. Bem como a necessidade de politicas educacionais que vençam as barreiras e entraves que inviabilizam a construção de uma educação de qualidade e; consequentemente, possibilite uma transformação da realidade em que se vive.

Assim, aprendemos pela observação e pela experiência que os países de mais alto nível de vida e de ritmo mais acelerado de crescimento são justamente aqueles que mais cuidam de sua educação. Podemos tomar como exemplo aqui na América Latina o Chile e no oriente a China, que deram aos seus sistemas educacionais um olhar diferente de países como Brasil e Portugal.

 

REFERÊNCIAS

 

Rummert, Sonia Maria; ALVES, Natália. Jovens e adultos trabalhadores pouco escolarizados no Brasil e em Portugal: alvos da mesma lógica de conformidade. Programa de Pós- graduação em Educação. Revista Brasileira de Educação. V.15 nº 45 Set/ Dez.2010.

Vídeo: Palestra do Prof. Dr. Miguel Arroyo

www.cead.ifes.edu.br

 

 



[1] FERREIRA, Maria José de Resende; PAIVA, Maria Auxiliadora Vilela IN: REPENSANDO O PROEJA, (ORG) Editora IFES, Vitória, 2011.